sábado, 27 de fevereiro de 2010

Para proteção, proteger meu filho e, se tivesse uma arma aqui, para te proteger.
- justificou-me, quando eu perguntei sobre o porte de armas nos E.U.A..
Proteger do que?
De pessoas que fazem mal sem motivo algum.
Você já matou alguém?
Felizmente não, mas eu sou capaz de matar para proteger meu filho. Se tivesse que atirar em alguém não hesitaria. Sinto muito a falta dele, não o vejo desde janeiro, ele é tudo na minha vida.

- Foi isso que me disse um estadunidense que está na marinha, tem apenas 23 anos.

Um companheiro dele de barco me contou outro fato sobre o além mar, eles visitaram o Haiti para prestar ajuda médica as vítimas do terremoto e inconformado me disse, com um olhar distante: eu tive que dizer a uma menina de quinze anos que ela teria de amputar a perna. Por que a perna dela estava completamente esmagada e não tinha como recuperá-la.

São responsabilidades pesadas demais para dois jovens em ofício de conhecer a vida e representam realidades muito diferentes das que estou acostumada. A conversa com os dois viajantes, extremamente educados e moldados pela cultura na qual vivem, me fez perceber, novamente, que temos todos as mesmas proezas e receios e que não somos diferentes.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sensações

Por que conseguimos ouvir sons que ouvimos no passado porém não estão mais presentes? Como o barulho de uma cachoeira, de uma conversa, de um avião, ou de um carro.
Onde ficam guardadas essas informações auditivas?
Onde associamos as informações sensoriais de uma só coisa? Ex.: Sol: luz, bola amarelada, calor.
Onde fica guardada a memória do paladar? Como sentimos o gosto do que não estamos comendo ou bebendo?
Sinto cheiro de verão, de saudade. Outro dia entrei no meu quarto e senti cheiro de Buenos Aires.
Ao longo da vida, quanto tempo a gente passa a olhar o relógio? Dias? Meses? Anos?
E por quais motivos? Tédio? Saudade? Curiosidade?

Extremo Sul

No inverno Antártico sem sol e sem lua são as estrelas que iluminam a escuridão. A brancura da superfície árida e gelada reflete a luminescência do céu e o brilho azulado encobre o pólo austral. Nessas condições fenômenos naturais incríveis se revelam para ninguém ver, a misticidade oculta se sacia e os mistérios permanecem mistérios. À vista das estrelas: negritude e paz.

Barulinho bom

O barulho forte da cachoeira silencia os sons irregulares, é um barulinho bom.
Corre, corre. Corre do trabalho, corre das pessoas, dos prédios, da casa. Corre de tudo, corre por tudo. Corre do mundo e pelo mundo. Corre da vida, corre da história, corre do passado. Corre da tristeza, para a felicidade, corre da amargura, das responsabilidades, do que quer que seja. Corre por algo ou por nada. Mas corre, sempre.
E depois do sempre, pare. Pare para pensar, para ver. Pare para dar passagem ao tempo, para imaginar fadas ou monstros. Pare para entender, ou não, mas pare. Para respirar ou para ter sonhos, para o descanso ou descaso. Pare para conhecer piratas ou ciclopes. Pare, só por parar, pare um pouco, só um pouquinho.
Após parar, lembre-se que você pode caminhar por onde quiser: pela sala, pelo parque, pela estrada, pelo livro, pela música ou pela imaginação. Pode andar na água, no céu ou pelas asas de uma borboleta. pode voar se quiser.
Então ande, voe. Em seguida pare...e volte a correr.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hoje, caminhando pela rua Jardim Botânico, contemplando as minúcias ao meu redor, avistei à minha frente um homem de aspecto esquisito. Tinha por volta dos 50, 60 anos, era barbudo, e, cambaleante, percorria o caminho estreito de pedras portuguesas. Ao olhar para a sua mão canhota, deparei-me com uma sacola plástica amarela que continha uma lata, arma, ou qualquer um dos muitos objetos, cabíveis na palma da mão, que perpassaram minha imaginação fértil naqueles momentos de tensão.
Na cidade maravilhosa a desconfiança paira no ar como gotículas de água num dia úmido e logo fiquei alerta. Observando cada movimento do aparente bêbado notei que ele se dirigia ao latão de lixo e, após mergulhar suas duas mãos, retirou de lá a página de uma revista, tudo o que pude ver foram dois girassóis coloridos. Não pude deixar de imaginar até onde desconfiança se transforma em paranóia e que por mais diferentes que sejamos, em certos momentos, todos sabemos apreciar a beleza de um girassol.
Logo em seguida fiquei de novo apreensiva ao ver um mendigo carregado de tralhas, com um andar esquisito, se voltar na minha direção. Como modo de defesa lhe dirigi um “bom dia” e ele respondeu. Fiquei curiosa, pois ele havia deixado seus pertences no asfalto escaldante e retrocedido seus passos. Olhando para trás observei que ele fora remover uma enorme folha de palmeira morta que impedia a passagem dos transeuntes e ciclistas. Após tais cenas excêntricas, voltei para casa mais contente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Arqueologia

Através do estudo de antigas civilizações é possível perceber que quase nada mudou. Os pombos continuam a balançar cabeça para frente e para trás, os vulcões continuam a construir e a destruir, o fogo continua vermelho e escandaloso, a água continua a purificar e nós cometemos os mesmos erros. As atrocidades se repetem, continuamos a nos indgnar e os sonhos continuam a nos manter sãos, sustentando-nos como os alicerces de um prédio. A natureza ainda permanece em constante transformação e as nossas vidas passam em ciclos: de humor, de ações, de momentos. Surge a penicelina, a luz elétrica, o avião, a fibra ótica; mas continuam a existir: as doenças, a escuridão, a gravidade e o silêncio. Esse mundo que vai se acabando está sempre a renascer.