terça-feira, 2 de novembro de 2010

Tempo

"Pense nisso: quando dão a você de presente um relógio, estão dando um pequeno inferno enfeitado, uma corrente de rosas, um calabouço de ar." - Histórias de Cronópios e Famas

Não quero contar meu tempo em horas ou minutos, mas em momentos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

A vida deve ser vivida no limite?!

Shh

Silêncio

A menina aponta, ao meio dia, um borrão no céu e exclama: "Olha lá, é a Terra!"

Silêncio

Aquele mundo, sempre que tento tocá-lo, se esquiva. Mundo das marés, regido pela lua. Mundo dos signos, cordenado pelos astros.

Silêncio

Luto à Júpiter. Luto aos cosmos que não conseguimos ver através das luzes artificiais.

Silêncio

Silêncio

Curta

Fui fazer um curta sobre o amor, não um amor vivido intensamente, como se o mundo pudesse acabar a qualquer instante, tão pouco, sobre um amor superficial, sem fundamentação. Mostrei um amor degustado aos poucos, por ter a certeza da eternidade, um amor apreciado em suas minúcias, silenciosamente, pois não precisa de palavras.

Sou eu

Sou de Áries:
inacabada,
aventureira,
exploradora.
Eu sou Marco Polo,
Eu sou o crepúsculo, a alvorada,
Sou o mar e o mundo.
Eu sou o futuro da nação,
Eu sou a revolução.
Eu sou lágrimas, sou sorrisos.
Sou a ignorância,
Sou a vida e a morte
O azar e a sorte
Sou a guerra e sou a paz
Sou você e sou nós
Eu sou Marco Polo,
exploradora do mundo.

Paraíso

De noite, é possível ver, na copa das amendoeiras, flores flourescentes, vulgarmente chamadas de estrelas. Algumas despencam do céu e boiam no mar, brilhando ao longe, na altura do horizonte. Na praia, as borboletas brancas pousam nos biquinis coloridos, na tentativa de adquirir suas cores vibrantes e enquanto realizam suas peripécias, levam paz às meninas desavisadas. A lua enorme vem chamar a todos para sentarem-se ao redor de uma fogueira. Ela ilumina o mar, como se fosse dia, e as pegadas na areia (glória de dias quentes, em noites frias). As folhas queimam, em um arder único, vermelho forte, enquanto as chamas brincam em seus vasos. Morrem de novo, depois da morte, brilhando secas e dançando nos olhos hipnotizados de quem observa o espetáculo. As estrelas movem-se em um ritmo próprio, passeando pelo céu, em conjunto, porém algumas, mais apressadas, correm, rasgando o azul infinito. E a música dos sonhos é o barulho do mar.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Pequenas alegrias

Deixei a muitos anos um porta tazo na casa da amiga da minha mãe, ela se mudou umas duas vezes desde então. Muito, muito, muito tempo depois (uns 7 anos) minha mãe se encontrou com ela e me entregou o porta tazo. A Tita não o jogou fora,
muito obrigada.
Um olhou para ela
e percebeu
que ela iria dizer
adeus
Um outro nem moveu
as palpebras
Já sabia,
ela iria dizer...

- "Adeus"

Por quê guerra?

"Põe-me onde se use toda a feridade
Entre tigres e leões, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei"
- Luís de Camões

Ainda não encontrei motivo válido para atrocidades, de todas que ouço nos jornais, livros, filmes e por aí. Você já encontrou?

Secreto

Assim como gravuras e épicos escritos com limão em uma folha de papel,
O silêncio de cada um esconde segredos
nunca
ou pouco
revelados.

Quem revela o primeiro são as chamas do fogo
mas os segredos podem ser recobertos de amianto
então, o que os revela?

Quanto a ti


iludi me jamais seus sonhos e meus sonhos foram sonhos nossos e sozinha estou não quero que suas alegrias ou seus mistérios sejam histórias fantasiosas nossas vivo enquanto tempo se passou
P.S.: A seta indica a ordem em que as palavras devem ser lidas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Para proteção, proteger meu filho e, se tivesse uma arma aqui, para te proteger.
- justificou-me, quando eu perguntei sobre o porte de armas nos E.U.A..
Proteger do que?
De pessoas que fazem mal sem motivo algum.
Você já matou alguém?
Felizmente não, mas eu sou capaz de matar para proteger meu filho. Se tivesse que atirar em alguém não hesitaria. Sinto muito a falta dele, não o vejo desde janeiro, ele é tudo na minha vida.

- Foi isso que me disse um estadunidense que está na marinha, tem apenas 23 anos.

Um companheiro dele de barco me contou outro fato sobre o além mar, eles visitaram o Haiti para prestar ajuda médica as vítimas do terremoto e inconformado me disse, com um olhar distante: eu tive que dizer a uma menina de quinze anos que ela teria de amputar a perna. Por que a perna dela estava completamente esmagada e não tinha como recuperá-la.

São responsabilidades pesadas demais para dois jovens em ofício de conhecer a vida e representam realidades muito diferentes das que estou acostumada. A conversa com os dois viajantes, extremamente educados e moldados pela cultura na qual vivem, me fez perceber, novamente, que temos todos as mesmas proezas e receios e que não somos diferentes.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sensações

Por que conseguimos ouvir sons que ouvimos no passado porém não estão mais presentes? Como o barulho de uma cachoeira, de uma conversa, de um avião, ou de um carro.
Onde ficam guardadas essas informações auditivas?
Onde associamos as informações sensoriais de uma só coisa? Ex.: Sol: luz, bola amarelada, calor.
Onde fica guardada a memória do paladar? Como sentimos o gosto do que não estamos comendo ou bebendo?
Sinto cheiro de verão, de saudade. Outro dia entrei no meu quarto e senti cheiro de Buenos Aires.
Ao longo da vida, quanto tempo a gente passa a olhar o relógio? Dias? Meses? Anos?
E por quais motivos? Tédio? Saudade? Curiosidade?

Extremo Sul

No inverno Antártico sem sol e sem lua são as estrelas que iluminam a escuridão. A brancura da superfície árida e gelada reflete a luminescência do céu e o brilho azulado encobre o pólo austral. Nessas condições fenômenos naturais incríveis se revelam para ninguém ver, a misticidade oculta se sacia e os mistérios permanecem mistérios. À vista das estrelas: negritude e paz.

Barulinho bom

O barulho forte da cachoeira silencia os sons irregulares, é um barulinho bom.
Corre, corre. Corre do trabalho, corre das pessoas, dos prédios, da casa. Corre de tudo, corre por tudo. Corre do mundo e pelo mundo. Corre da vida, corre da história, corre do passado. Corre da tristeza, para a felicidade, corre da amargura, das responsabilidades, do que quer que seja. Corre por algo ou por nada. Mas corre, sempre.
E depois do sempre, pare. Pare para pensar, para ver. Pare para dar passagem ao tempo, para imaginar fadas ou monstros. Pare para entender, ou não, mas pare. Para respirar ou para ter sonhos, para o descanso ou descaso. Pare para conhecer piratas ou ciclopes. Pare, só por parar, pare um pouco, só um pouquinho.
Após parar, lembre-se que você pode caminhar por onde quiser: pela sala, pelo parque, pela estrada, pelo livro, pela música ou pela imaginação. Pode andar na água, no céu ou pelas asas de uma borboleta. pode voar se quiser.
Então ande, voe. Em seguida pare...e volte a correr.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hoje, caminhando pela rua Jardim Botânico, contemplando as minúcias ao meu redor, avistei à minha frente um homem de aspecto esquisito. Tinha por volta dos 50, 60 anos, era barbudo, e, cambaleante, percorria o caminho estreito de pedras portuguesas. Ao olhar para a sua mão canhota, deparei-me com uma sacola plástica amarela que continha uma lata, arma, ou qualquer um dos muitos objetos, cabíveis na palma da mão, que perpassaram minha imaginação fértil naqueles momentos de tensão.
Na cidade maravilhosa a desconfiança paira no ar como gotículas de água num dia úmido e logo fiquei alerta. Observando cada movimento do aparente bêbado notei que ele se dirigia ao latão de lixo e, após mergulhar suas duas mãos, retirou de lá a página de uma revista, tudo o que pude ver foram dois girassóis coloridos. Não pude deixar de imaginar até onde desconfiança se transforma em paranóia e que por mais diferentes que sejamos, em certos momentos, todos sabemos apreciar a beleza de um girassol.
Logo em seguida fiquei de novo apreensiva ao ver um mendigo carregado de tralhas, com um andar esquisito, se voltar na minha direção. Como modo de defesa lhe dirigi um “bom dia” e ele respondeu. Fiquei curiosa, pois ele havia deixado seus pertences no asfalto escaldante e retrocedido seus passos. Olhando para trás observei que ele fora remover uma enorme folha de palmeira morta que impedia a passagem dos transeuntes e ciclistas. Após tais cenas excêntricas, voltei para casa mais contente.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Arqueologia

Através do estudo de antigas civilizações é possível perceber que quase nada mudou. Os pombos continuam a balançar cabeça para frente e para trás, os vulcões continuam a construir e a destruir, o fogo continua vermelho e escandaloso, a água continua a purificar e nós cometemos os mesmos erros. As atrocidades se repetem, continuamos a nos indgnar e os sonhos continuam a nos manter sãos, sustentando-nos como os alicerces de um prédio. A natureza ainda permanece em constante transformação e as nossas vidas passam em ciclos: de humor, de ações, de momentos. Surge a penicelina, a luz elétrica, o avião, a fibra ótica; mas continuam a existir: as doenças, a escuridão, a gravidade e o silêncio. Esse mundo que vai se acabando está sempre a renascer.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Estranhos

Estranhos pensamentos que circudam minha mente e muito provavelmente divergem da verdade absoluta. Nada sei sobre esses estranhos que rodeiam a cidade. Uma senhora passa em frente aos meus olhos míopes, vejo sua imagem levemente distorcida e me pergunto: qual é a sua história? Não sei nada sobre ela e provavelmente nunca saberei, se quer tornarei a postar meu olhar falho em sua pessoa. Almas perpassam à minha frente e não me vêem, mas eu as vejo, reluzidas no vulto borrado da minha imaginação. Algumas são azuis, outras magenta, tem umas que brilham, umas são foscas e outras são pedras. Algumas histórias passam defronte à mim mais de uma vez, mas é muito rápido, não as leio. Nada sei das marcas que guarda seu coração. Desejos? Aspirações? Vida? Família? Só imagino, e assim crio novos personagens, que são reais em parte, que poderiam ser reais, que podem, ainda, o ser.
Como serei eu quando encontrar o que procuro?

Sobre o Sol e a Lua

Duas historietas fantastiques.

"... Dizem que o sol e a lua já foram enamorados, porém as estrelas, com ciúmes do sol, fizeram um feitiço para que os dois não mais se encontrassem. Desse modo a lua seria das estrelas somente... Todo dia o sol vem procurar a lua, mas não a encontra e toda noite a lua canta a ausência de seu amado. Aos poucos os dois vão morrendo distantes, por causa das estrelas ciumentas."

"O sol doura a cidade e brinca com a sombra ao se despedir do céu. "Vou de encontro à lua"- diz às nuvens todas as tardes. Percorre sempre o mesmo caminho, procurando a magnífica luz tímida e esbranquiçada. Toda noite a lua suspira, passa horas a olhar o mar, tão imenso, tão azul. Tem a Terra como sua fiel companheira e dança com o oceano valsas nostálgicas do tempo que era uma só.
Ela é um farol grandioso à procura da sua outra metade. Todas as noites pergunta aos navegantes onde está o sol. Mas eles não a compreendem. A lua pressente que o sol está em algum lugar nas proundezas das águas, um local tão fundo que seu brilho amarelado se ofusca na densa escuridão.
Lembro-me de um dia que nadava à procura de comida quando um clarão enorme adentrou a água negra: era a lua à procura do sol. Suas lágrimas aumentaram o volume dos mares de tal modo que ondas gigantescas balburdiavam as praias. Nesse dia a vi indo tão fundo que temi por ela, mas logo em seguida ela surgiu resplandecente. Estava maior e amarelada e trazia consigo um sorriso. Havia encontrado o sol, finalmente. E os dois emergeram ao céu e, desde então, não mais se separaram." - memórias de uma baleia jubarte.