quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Hoje, caminhando pela rua Jardim Botânico, contemplando as minúcias ao meu redor, avistei à minha frente um homem de aspecto esquisito. Tinha por volta dos 50, 60 anos, era barbudo, e, cambaleante, percorria o caminho estreito de pedras portuguesas. Ao olhar para a sua mão canhota, deparei-me com uma sacola plástica amarela que continha uma lata, arma, ou qualquer um dos muitos objetos, cabíveis na palma da mão, que perpassaram minha imaginação fértil naqueles momentos de tensão.
Na cidade maravilhosa a desconfiança paira no ar como gotículas de água num dia úmido e logo fiquei alerta. Observando cada movimento do aparente bêbado notei que ele se dirigia ao latão de lixo e, após mergulhar suas duas mãos, retirou de lá a página de uma revista, tudo o que pude ver foram dois girassóis coloridos. Não pude deixar de imaginar até onde desconfiança se transforma em paranóia e que por mais diferentes que sejamos, em certos momentos, todos sabemos apreciar a beleza de um girassol.
Logo em seguida fiquei de novo apreensiva ao ver um mendigo carregado de tralhas, com um andar esquisito, se voltar na minha direção. Como modo de defesa lhe dirigi um “bom dia” e ele respondeu. Fiquei curiosa, pois ele havia deixado seus pertences no asfalto escaldante e retrocedido seus passos. Olhando para trás observei que ele fora remover uma enorme folha de palmeira morta que impedia a passagem dos transeuntes e ciclistas. Após tais cenas excêntricas, voltei para casa mais contente.

Um comentário:

  1. Pequenas transformações cotidianas!
    Os mendigos dão um maravilhoso estudo sobre a loucura e a sociedade, às vezes sobre nós mesmos.
    Você conhece a história do mendigo e o pote azul? Não? Vou postar no Entrelinhas.

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